terça-feira, 11 de maio de 2010

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE -


Para sempre

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece,
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio,
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.


PS - Suas mãos

Aquele doce que ela faz
quem mais saberia fazê-lo?
Tentam. Insistem,caprichando.
Mandam vir o leite mais nobre.
Ovos de qualidade são os mesmos,
manteiga a mesma,
iguais açúcar e canela.
É tudo igual. As mãos (as mães?)
São diferentes.