domingo, 27 de dezembro de 2009

DUAS MÃES PARA UMA VIDA - Autor Desconhecido

Era uma vez duas mulheres
que nunca se encontraram.
De uma não te lembras;
a outra é aquela que tu chamas Mãe.
Duas vidas diferentes
na procura de realizar uma só: a tua.
Uma foi a tua boa estrela,
a outra o teu sol.
A primeira te deu a vida,
a outra te ensinou a viver.
A primeira criou em ti a necessidade do Amor,
a segunda te deu esse Amor.
Uma te deu as raízes,
a outra te ofereceu teu nome.
A primeira te transmitiu teus dons,
a segunda te deu uma razão para viver.
Uma fez nascer em ti a emoção,
a outra acalmou tuas angústias.
A primeira recebeu teu primeiro sorriso,
a outra secou as tuas lágrimas.
Uma te ofereceu em adoção,
era tudo o que ela podia fazer por ti.
A outra rezou para ter uma criança
e Deus a encaminhou em tua direção.
E agora, quando chorando,
tu me colocas a eterna questão:
herança natural ou educação?
De quem eu sou fruto?
Nem de um nem de outro, minha criança...
Simplesmente, de duas formas diferentes de Amor




 Fontehttp://psicologiaeadocao.blogspot.com/

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

NO TEMPLO DA UTI - Joana de Angelis


"Se queres saber o que fazer e como fazer numa UTI, ante os estertores da dor, recorda Jesus curando os enfermos e ressuscitando os mortos. Imita-O e não te surpreenderás com o milagre do amor.
A UTI é um templo de amor. Nela, une-se a mente do médico à mente divina, as mãos do homem às mãos de Deus, a favor da vida!
Os doentes que nela penetram são irmãos necessitados mais dos recursos da enfermagem do amor que da ciência da cura, porque a alma amada é alma curada.
Quando penetrares esse santuário de bênçãos com a missão de salvar, unge-te primeiro com o bálsamo da oração, para que possas auscultar Deus no doente que assistes. Depois, oferece-lhe ao coração aflito a tua vibração de paz e de reconforto. Só assim estarás ligando no Céu o que ligaste na Terra, ou seja, terás aprovado por Deus o amor praticado em Seu nome.
Não perguntes o que é possível fazer ou deixar de fazer. Mas o que deves fazer, porque é no cumprimento do dever que se descobre a luz que afasta as trevas, o amor que consola a dor, e o bem que elimina o mal. Fazes o que deves e Deus fará o resto. E o que Deus faz está bem feito!
Não contamines jamais o ambiente sagrado da UTI com idéias sombrias e sentimentos de fuga ou indiferença, porque nela Deus te vigia os pensamentos e atos que se constituirão os teus depósitos na contabilidade divina, quando chegar um dia a tua vez de paciente, de necessitado da assistência alheia.
UTI pode ser entendida também como União de Todos os Irmãos, em defesa da vida, que é o maior de todos os bens divinos. E lembra-te de que a vida que se leva aí é a vida que se leva para além-túmulo. A bagagem que trazemos na grande viagem é a dos bens ou dos males que ajuntamos aí.
Por isso, não te descures do dever de amar. Que o convívio com a dor não te anestesie a alma. Não auscultes apenas o bater do coração do enfermo. Ouve, além da linguagem da bomba humana, os apelos da alma que te confia a vida e que deseja viver. Sofre com ela, assim como sofrerias se fosses tu o doente, ou alguém do teu coração.
Aguça a tua visão mental e verás nas entrelinhas do prontuário de cada enfermo esta belíssima receita que São Paulo escreveu para ti: “Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos”.
Com a paz de Jesus, nosso Senhor e Mestre.


                           Joana"

RESÍDUO - Salvino Pires Sobrinho




à minha saudosa filha Carolina




do sabor me tiraram o doce
da ternura me apagaram o olhar
do carinho me arrancaram o calor
da alegria me levaram o motivo
a parte que dói deixaram comigo

CANÇÃO DO EXÍLIO - Gonçalves Dias


Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem que ainda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

CANÇÃO - Mário Quintana




Minha terra não tem palmeiras …
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
Minha terra tem refúgios,
Cada qual com a sua hora
Nos mais diversos instantes …
Mas onde o instante de agora?
Mas a palavra “onde”?
Terra ingrata, ingrato filho,
Sob os céus de minha terra.
Eu canto a Canção do Exílio.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

TROVAS DO SÊNECA - Soares da Cunha



Olho o céu, olho as montanhas,
Olho uma nuvem passar...
E acabo me convencendo
Que a alma é função do olhar.

sábado, 19 de dezembro de 2009

SABIÁ - Chico B./ Tom Jobim


Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De um palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor Talvez possa espantar
As noites que eu não queira
E anunciar o dia

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
E é pra ficar
Sei que o amor existe
Não sou mais triste
E a nova vida já vai chegar
E a solidão vai se acabar
E a solidão vai se acabar

MEUS OITO ANOS - Casimiro de Abreu


Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

Como são belos os dias
Do despontar da existência !
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !

Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

PROMESSA - Dilma Souza Silva


Na próxima encarnação, João,
se Deus me conceder tamanha graça,
eu quero me casar contigo.
E, se, em vez de progredires, regredires
- o que é pouco provável -
eu concordarei, lá em cima, na hora dos acertos,
em ser uma mulherzinha, Maria,
Mariazinha,
dessas que a intelectualidade atual
considera psicosocialmente medíocres.
A ponto de,
se lá um dia chegares tonto em casa,
tirar teus sapatos
beijar-te os pés
lavar-te o corpo
e dar-te a beber café amargo.
E eu, que hoje nada entendo de cozinha,
concordo em ser maestrina de gastronomia:
passarei a vida toda
a criar nossos filhos (eu quero cinco)
e a preparar pratos gostosos.
Talvez até escreva um livro de receitas
em prol de alguma instituição de caridade
mas, na dedicatória, eu garanto:
Ao meu querido João
a quem desejo alimentar
por toda minha vida
de corpo e alma.