sábado, 19 de dezembro de 2009

SABIÁ - Chico B./ Tom Jobim


Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De um palmeira
Que já não há
Colher a flor
Que já não dá
E algum amor Talvez possa espantar
As noites que eu não queira
E anunciar o dia

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
E é pra ficar
Sei que o amor existe
Não sou mais triste
E a nova vida já vai chegar
E a solidão vai se acabar
E a solidão vai se acabar

MEUS OITO ANOS - Casimiro de Abreu


Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

Como são belos os dias
Do despontar da existência !
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor !

Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !

Oh ! dias de minha infância !
Oh ! meu céu de primavera !
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã !
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis !

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !

Oh ! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

PROMESSA - Dilma Souza Silva


Na próxima encarnação, João,
se Deus me conceder tamanha graça,
eu quero me casar contigo.
E, se, em vez de progredires, regredires
- o que é pouco provável -
eu concordarei, lá em cima, na hora dos acertos,
em ser uma mulherzinha, Maria,
Mariazinha,
dessas que a intelectualidade atual
considera psicosocialmente medíocres.
A ponto de,
se lá um dia chegares tonto em casa,
tirar teus sapatos
beijar-te os pés
lavar-te o corpo
e dar-te a beber café amargo.
E eu, que hoje nada entendo de cozinha,
concordo em ser maestrina de gastronomia:
passarei a vida toda
a criar nossos filhos (eu quero cinco)
e a preparar pratos gostosos.
Talvez até escreva um livro de receitas
em prol de alguma instituição de caridade
mas, na dedicatória, eu garanto:
Ao meu querido João
a quem desejo alimentar
por toda minha vida
de corpo e alma.